Entrevista
Emir
Sader
O
Brasil é uma ditatura social
Marcia
Camarano
Mestre
em filosofia política e doutor em ciência política
pela Universidade de São Paulo (USP), o professor Emir Sader
é atualmente um dos pensadores mais comentados do Brasil.
Um público cativo acompanha seu trabalho por meio de seus
livros publicados e palestras ministradas por todo o país.
Estudantes, intelectuais e políticos que buscam novos rumos
para o Brasil fazem parte desse grupo de disseminadores do pensamento
de Sader, que atualmente é professor de sociologia na Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Antes disso, ele trabalhou como
professor de Filosofia e Ciência Política na USP, esteve
no Chile como pesquisador do Centro de Estudos Sócio-Econômicos
da Universidade daquele país e atuou como professor de política
na Universidade de Campinas (Unicamp). Hoje (31/8) ele participa
da mesa redonda A preservação da identidade
cultural no contexto da globalização.
Extra
Classe - Na Jornada, o senhor será palestrante no tema A
preservação da identidade cultural no contexto da
globalização. Como vê este assunto?
Emir Sader - Não se trata tanto de preservar, mas de produzir
a identidade cultural brasileira.
EC-
Como o senhor vê, atualmente, o Brasil do ponto de vista político,
econômico e social? E, na sua opinião, o país
vive uma democracia real?
Sader - O Brasil tem a aparência de uma democracia política,
mas sendo o país de pior distribuição de renda
do mundo, é uma ditadura social, agora revestida de uma financeirização
e mercantilização generalizada do Estado e da sociedade.
EC
- Como fica o restante da América Latina nesta questão?
Sader - Na América Latina, com as exceções
de Cuba e da Venezuela, se dá algo similar ao Brasil, porque
as políticas aplicadas, fabricadas pelo FMI (Fundo Monetário
Internacional), são as mesmas.
EC-
Cuba é um tema muito presente na sua bibliografia. Que lições
o senhor pretende externar?
Sader - A principal lição a se aprender de Cuba é
que um país pode ser justo sem ser rico.
EC-
Contraversões com Frei Betto é
seu livro mais recente?
Sader- Publiquei também Que Brasil é este?,
pela Atual, As armas da crítica e a crítica
das armas (citações de Marx) e ContraCorrente
- seleção de artigos da New Left Review - estes dois
últimos pela Record. (N. R. Na verdade, a bibliografia de
Emir Sader é bem mais extensa do que isto, chegando quase
a 20 publicações, entre livros, compilações,
seleções e organizações).
EC-
Quais os principais problemas do Brasil na sua opinião e
como o senhor encara a atuação do governo federal
na atuação do país?
Sader - Os problemas do país se resumem naquilo que foi promovido
pelo governo Fernando Henrique Cardoso: a hegemonia do capital financeiro
no país.
EC-
O senhor crê que a esquerda tenha um projeto para o país
e possa alcançar a vitória eleitoral ano que vem?
Sader - A esquerda precisa de um projeto que, principalmente, mude
de forma radical a inserção internacional do Brasil
de uma situação subordinada a uma soberana; que faça
uma reforma demorática radical do Estado; e que rompa com
a política econômica de FHC/Malan, substituindo-a por
outra, voltada para o mercado interno de consumo de massas, pela
distribuição de renda e por um projeto de desenvolvimento
econômico de caráter nacional.
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