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DESENHOS QUE SÃO PALAVRAS

Com reconhecimento nacional e internacional por seu trabalho como ilustrador e artista plástico, Luiz Carlos Coutinho, o Caulos, foi o homenageado na abertura da 9ª Jornada de Literatura, que ocorreu ontem (27/8) no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider. Ele é um orgulho para muitos, pelo fato de um intelectual brasileiro fazer sucesso com seu trabalho lá fora. "Uma obra que começou no ambiente da ditadura militar", como lembrou o editor Ivan Pinheiro Machado, ao se referir a sua participação no jornal O Pasquim, que mudou o jornalismo com suas ácidas críticas aos anos de chumbo, tornando-o um dos símbolos da resistência. Ivan Pinheiro aproveitou a homenagem ao ilustrador de O Pasquim para anunciar que, na Jornada, a L & PM Editores estará relançando um dos livros mais conhecidos de Caulos, "Só dói quando respiro", uma combinação das mazelas políticas com sua outra grande preocupação: a ecologia. O livro esgotou rapidamente na década de 70 e por muitos anos foi utilizado como referência para quem é preocupado com as questões ecológicas, a censura e a liberdade de expressão. Ele é autor ao todo de sete títulos, entre eles "Vida de Passarinho", "Caulos: Pinturas", "A última flor amarela" e "Errar é humano". O autor tem suas publicações editadas, além do Brasil, nos Estados Unidos e Europa.
Como vemos, a vida de Caulos evoluiu para tudo isso que se afirma dele hoje, mas o início não foi nada fácil.

Extra Classe - Sua vida profissional foi sempre voltada para o cartum, a ilustração e a pintura?
Caulos - Saí do interior de Minas Gerais, Araguari, com minha família para o Rio de Janeiro aos 10 anos. Meu primeiro emprego foi como piloto da Marinha Mercante. Eu já gostava de desenhar mas, no interior de Minas, desenho não era uma carreira que se desejasse para um filho.

EC- Mas e a sua entrada no mundo do traço?
Caulos- Deixei a Marinha Mercante e, como não sabia fazer outra coisa, fui procurar um emprego de desenhista. Aos 26 anos, trabalhei em uma gráfica.

EC- Quando surgiu O Pasquim na sua vida?
Caulos - Foi mais ou menos nessa época. Nunca tinha feito cartum, e foi aí que surgiu a oportunidade. Foi quando conheci o Millor (Fernandes), o Jaguar, o Fortuna, que já morreu, o Ziraldo, o Henfil e o Ivan Lessa.

EC- Você pegou o início daquele projeto que acabou revolucionando a imprensa brasileira?
Caulos- Não, eu não sou um dos fundadores do jornal. Pode-se dizer que eu era o caçula da turma.

EC- E quando acabou, o que você foi fazer?
Caulos- Trabalhei em grandes jornais do país. Passei pela Última Hora, pelo Correio da Manhã e fiz longa carreira no Jornal do Brasil. No início da década de 80, eu deixei o JB e fui trabalhar na TV Globo. Eu fazia cartum para a televisão e texto de humor. Criei cartuns animados para o programa humorístico Planeta dos Homens.

EC- Como a pintura entrou na sua vida?
Caulos- Em 1982, saí da TV e resolvi pintar. Mesmo durante meu tempo de cartunista eu já pintava, fazia minhas exposições em galerias. Mas em 82, deixei tudo só para pintar. Minha técnica é óleo sobre tela. Nos anos 70, montei uma exposição de desenhos ecológicos no Museu de Arte Moderna (MAM).

EC- Quando foi sua primeira exposição?
Caulos - Minha primeira experiência foi no Rio de Janeiro, em 1987. No mesmo ano, fiz uma exposição também em Porto Alegre. Eu trabalho com uma disciplina rígida. Todos os dias eu desenho e pinto.

EC- É o que você vem fazendo hoje profissionalmente?
Caulos - Hoje, vivo só da pintura. Humor e cartum, se me pedem, eu faço, mas é algo que já não está mais no meu dia-a-dia. A única coisa que faço fora isso são livros infantis, que são três, todos com enfoque na ecologia.