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Questões sociais pela ótica de Renato Tapajós

Marcela Muttoni


Paraense de natureza, desde a adolescência dedicou-se às três paixões de sua vida: o cinema, a literatura e a política. Aos dezenove anos mudou-se para São Paulo, onde, depois de prestar vestibular de engenharia e cursar por algum tempo a Escola de Artes Dramáticas, acabou formando-se em Ciências Sociais. Enquanto estudante, participou de uma organização clandestina contra a ditadura e, por isso, passou cinco anos na prisão. Seu primeiro livro surge nessa época: Em câmara Lenta.

Na década de 80, Renato abriu uma produtora de vídeo em sociedade com alguns amigos, onde trabalha até hoje. Além de ter feito inúmeros filmes, documentários e vídeos, muitos deles premiados, dedica-se à literatura juvenil, na qual estreou em 1994 com Carapintada, publicado pela Editora Sinal Aberto. Em todos os seus livros há uma nítida preocupação em lutar por um mundo mais justo. Entre suas obras encontram-se: Por um Pedaço de Terra, A infância acabou e Queda livre
.


Seu primeiro livro foi dedicado ao público adulto. O que o fez começar a escrever para o público jovem?


No início dos anos 90, com a luta pelo impeacheament do então presidente Fernando Collor de Mello, meus filhos, na época adolescentes estudantes, se envolveram com o movimento dos caras pintadas. Eu achei que aquela luta era quase como o renascimento do espírito que os estudantes tinham nos anos 60, quando lutavam contra a ditadura. Então imaginei que seria interessante se eu conseguisse escrever algo que fosse como uma carta para os meus filhos, mostrando a relação que tinha esse momento da vida deles com minha juventude, com a luta que o pai deles tinha travado.


Há alguma pesquisa feita diretamente com os jovens antes de começar a escrever suas histórias, que indague suas dúvidas e questionamentos?


Pesquiso dependendo da profundidade do tema e do meu conhecimento. Por exemplo, para escrever Cara Pintada fiz poucas pesquisas, porque eu conhecia estas questões muito de perto. Já o livro que me debandou mais pesquisa foi Queda Livre que trata do primeiro relacionamento sexual ocorrido entre dois adolescentes e por eu só ter filhos homens e precisar criar uma personagem feminina, verosímil, eu tive que pesquisar o universo das adolescentes, descobrir como é que elas pensam, qual é a relação delas com o sexo, e isso foi mais complicado.


Em Por um Pedaço de terra você trata do Movimento dos Sem Terra e da visão deturpada que temos da situação como um todo. Foi difícil encontrar material de pesquisa? Tiveste oportunidade de visitar algum acampamento para presenciar as diferenças entre os jovens da cidade e os do campo?


A pesquisa que eu fiz para escrever o livro foi muito facilitada porque eu tinha contato com os sem terra em função de uma série de trabalhos culturais. Durante certo tempo eu escrevi para a revista do movimento, então freqüentei muitas reuniões do pessoal da coordenação, em São Paulo. Também visitei muitos assentamentos e acampamentos perto de Campinas, em São Paulo. Na região de Sumaré tem dois assentamentos do movimento que tem mais de quatorze anos e já são assentamentos fixos. Eu fui várias vezes lá, inclusive com alunos meus de um curso de documentário, e tudo isso permitiu que eu tivesse uma visão muito completa da questão.


Você acha que conseguiu auxiliar a mudar a visão que as pessoas possuem do movimento?


Acredito que mudar a visão que as pessoas têm do movimento é um pouco ambicioso demais para um livro. Para mudar a visão que se tem é preciso toda uma campanha de mídia. É preciso algo muito maior que um livro. Eu espero que o livro esteja contribuindo para mudar a visão do movimento para os jovens que têm acesso ao livro. Se essa visão mudar hoje, daqui há alguns anos, quando estes jovens estiverem na sociedade, trabalhando, assumindo seu papel, pode ser que a sociedade seja um pouco mais justa em relação ao Movimento dos Sem Terra.

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