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Leitores para toda vida
Vivian Eichler A americana Marrietta Castle veio à Jornada com o legítimo intuito de trocar experiências de leitura. Professora e pesquisadora, ela une a investigação científica e o trabalho direto com professores e alunos, mostrando como é possível ensinar a amar, a desejar o livro. Ao lado de Eugene H. Cramer, Marrietta organizou o livro Incentivando o amor pela leitura, onde reúne textos seus e de pesquisadores que defendem a idéia da auto-seleção de livros, ou seja, uma outra visão das leituras obrigatórias das escolas. Eles se baseiam no papel orientador e motivador do professor, sensível às necessidades dos alunos, para incentivá-los a serem leitores ativos e envolvidos.
Nos dias em que permaneceu em Passo Fundo, a autora participou de cursos e conversas paralelas, e observou a abrangência da movimentação cultural da Jornada. Impressionada com o que viu, Marrietta Castle já se programou para levar a São Francisco (Califórnia – EUA), em um encontro internacional de escritores, no final de abril, relatos de uma cidade do sul do hemisfério sul, que nos últimos 20 anos trabalha em prol da leitura. Ela afirma: nunca vi nada parecido, e olha que tenho andado por aí!.
Como você pesquisa o amor pela leitura?
Meu trabalho tem a ver com o porquê as crianças escolhem os livros. Nós sabemos que são preferências individuais, mas percebemos que as crianças não se acham muito íntimas aos livros. Quando não sentem que preenchem suas necessidades, os rejeitam. As crianças não irão escolhê-lo somente por recreação, prazer. O interessante, segundo a pesquisa, é a comprovação de que é necessário tempo em classe para ler os livros e deixar livre para os alunos poderem escolhê-los, claro que sob a orientação do professor. Nas classes que fazem isso, ao contrário daquelas que se restringem às leituras indicada e obrigatórias, as crianças têm um desempenho melhor. Nós queríamos saber o que acontece nestas diferentes salas de aulas. Fomos para escolas onde o desempenho era alto pelo menos nos últimos cinco anos, e também fomos onde era menor nos últimos cinco anos. A diferença foi clara. As melhores classes eram aquelas com o que chamamos de auto-seleção de leituras. Onde se tinha tempo para explorar a literatura, para o professor ler em voz alta e discutir em pequenos grupos, os alunos se tornaram leitores independentes e adquiriram muita prática. Esta pesquisa é real, comprovada, mas às vezes é difícil convencer os professores de que é preciso mudar para conseguir formar leitores para toda a vida.
Que tipo de trabalho vocês têm desenvolvido para mostrar aos professores esta necessidade?
Como consultora do Estado de Illinois, onde cresci e sou professora há anos, ministro workshops para pais e professores. Também vou até a sala de aula e participo das classes, ajudo a professora, mostrando a ela algumas didáticas. Gosto de unir as pesquisas com a prática. Uma das atividades mais interessantes que estamos realizando nos últimos três anos em Illinois são os encontros de verão. Buscamos os repetentes e os colocamos em uma escola por seis a oito semanas, com quatro aulas semanais. A diferença de outros cursos é que neste os professores recebem 30 horas de treinamento na filosofia do incentivar o amor pela leitura, ministradas por eu e outros especialistas. Eles recebem do estado uma boa quantia em dinheiro para comprar livros literários que são utilizados durante as aulas. Nós chamamos de pontes de verão, expressando o cruzamento com sucesso do ano que passou para o próximo. É incrível, as crianças dos níveis mais baixos alcançam os mais altos resultados nos testes aplicados anualmente pelo estado. Tornam-se equivalentes aos alunos de melhor desempenho ou, pelo menos, crescem de forma impressionante. Obtivemos tanto sucesso que, no início do projeto, o estado apenas financiou as atividades em algumas escolas. Agora já está quatro vezes maior do que quando começou.
A partir dessa experiência os professores têm incorporado a nova visão...
Exatamente, eles levam tudo que sabem a suas classes regulares, inclusive os livros que adquiriram para o curso de verão. E compram coleções inteiras, às vezes com várias cópias, sempre livros literários. As crianças estão melhores e os professores também. Nós esperamos que sempre haja recursos para prosseguir com as práticas baseadas em pesquisas, que, por sua vez, necessitam de financiamento. Enfim, é um projeto rigoroso, com permanente avaliação e que trata de leitura e do conhecimento de outras áreas, como matemática, estudos sociais e ciências, através de literatura. É aprender com os livros sobre o mundo.
Com a sua experiência formando leitores, que impressões a senhora tem sobre a Jornada de Literatura?
Vocês estão mostrando o que nós poderíamos fazer. Eu não tenho conhecimento de nenhum outro evento deste porte e que trabalha com os professores, os alunos. Tenho muitas informações sobre o que vocês estão fazendo aqui, sobre as iniciativas, as atitudes das crianças. Tenho conversado com muitos educadores. Pretendo voltar e apresentá-las no final de abril em São Francisco, em um encontro da Associação Internacional de Escritores e buscar algumas oportunidades de intercâmbio para professores brasileiros, o que eu acredito que não está acontecendo no momento.
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