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Capparelli: O prazer pela leitura se desenvolve na infância

Débora Costa


Sérgio Capparelli é um dos destaques da 1ª Jornadinha Nacional de Literatura, onde trabalha com as crianças em um espaço que disponibiliza computadores para colocar os pequenos participantes em contato com a internet. O escritor, que participou da 1ª Jornada Sul-Rio-Grandense de Literatura, em 1981, foi também um dos homenageados nos 20 anos de Jornadas Literárias em Passo Fundo. Professor da Ufrgs, atualmente Capparelli trabalha com um site de poesias digitais (www.ciberpoesias.com.br) e é um dos mais conhecidos autores nacionais de histórias infantis e infanto-juvenis, mesclando aventura, humanismo e lirismo.


Antigamente os pais contavam mais histórias para seus filhos e, hoje em dia, a criança passou a se divertir com a televisão. Nesse ponto qual seria a importância do pai-leitor? As crianças precisam de narrativas?
O gosto, esse prazer pela leitura, se desenvolve em todos os espaços da infância e os principais são a casa e a escola. Em casa, não é só o pai ou a mãe contarem histórias, é também ter livros. Quando a criança é muito pequena, esse é o papel dos pais: contar e narrar histórias. Essas narrativas não são importantes apenas para as crianças, todo mundo gosta e tem necessidade delas. Os adultos, por exemplo, quando estão na frente da televisão estão participando de narrativas, seja telenovelas ou filmes, existe uma interação com esse mundo maravilhoso, com essa realidade que é recontada de outras experiências. É lógico que a televisão vai disputar esse tempo disponível da criança, mas não seria suficiente simplesmente abolir-se a televisão, pois é uma narrativa necessária e importante no mundo em que vivemos somando-se ao livro. Essas narrativas chegam através do livro, da visão do que lemos e do coração e da mente que imagina, mas também através dos sons, da audição, da visão e tudo isso faz parte dessa necessidade de satisfação.

Esse avanço tecnológico, que cada vez mais vem crescendo, e pode ser visto agora com o e-book, pode acabar com o livro aos poucos?
Eu não acho que o computador vai tomar conta do livro, pois é uma forma diferente de expressão, principalmente nessa multiplicidade de linguagens que vivemos atualmente. Então é muito cedo para que isso ocorra, além de ser uma maneira desconfortável de ler em frente a um computador. Temos que pensar em uma perspectiva e numa mudança a longo prazo, não apenas a mudança da tecnologia, mas sim uma mudança das práticas sociais de leitura. Isso ocorre rapidamente, acho que é uma convivência entre o livro de papel e o livro virtual, de bits. É esse conjunto que se torna enriquecedor.

Pelo fato de você ser professor universitário, jornalista, poeta, ficcionista, como surgiu a idéia de não só escrever para adultos mas também para o público infantil e infanto-juvenil?
A idéia surgiu de uma maneira espontânea. Quer dizer, não existe um momento na vida de quem escreve em que pensamos: bom, entre todas as profissões que existem, agora vou ser escritor. E vou escrever para quem, para adultos ou para crianças? Escrever para crianças é algo muito mais espontâneo e vai acontecendo sem nos darmos conta.

Na sua primeira obra para os leitores infantis, que foi Os garotos da rua da praia, você cita Passo Fundo e Tramandaí. Qual sua ligação com essas cidades?
Em relação a Passo Fundo tenho um certo mito, que seja as músicas da época de Teixeirinha, a história do Planalto Médio, ou o próprio nome Passo Fundo. Quer dizer, mesmo antes de visitarmos uma cidade temos uma imagem e um mito sobre ela, sobre as coisas que contam e que a rodeiam, daí aparecerem desses termos. E Tramandaí eu não conhecia, mas nós escrevemos sobre as coisas que existem e que fazem parte da vida da gente, mas também sobre aquelas que gostaríamos que existissem. Por exemplo, na obra Vovô fugiu de casa me perguntam se eu escrevi sobre meu avô, mas ele morreu quando eu tinha três anos, e eu vejo que escrevi sobre o avô que não tive. Por isso a literatura é complexa, pois temos que entrar nesse mundo multifacetado, onde as coisas que faltam, os desejos não são realizados. Ela é muito mais cheia de vertentes, fazendo com que o campo de atuação seja fascinante.

O público infantil é mais exigente do que o adulto?
Eu acho que é tão exigente quanto o adulto, só que de uma exigência diferente, a todo vapor, com um imaginário infantil.

Como você vê essa inovação de criar uma jornada para crianças, após 20 anos de Jornadas Literárias?
É uma das melhores iniciativas. As Jornadas, de uma maneira geral, já são uma grande iniciativa. E a Jornadinha é um espaço importante que estava faltando.

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