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Carlos Nejar

Poemas

Os cavalos

Os cavalos tinham o ardor de nuvens se empinando.
Vinham, inteiros, no nitrir das tardes, junto às oliveiras.
Meninos em férias, focinhavam dálias. Eram exaltados,
amoráveis e as ervas das crinas mugiam de verdor.
As pálpebras amor baixavam. E às vezes, os cavalos
se riam , a dentuça à mostra. Coçavam-se nas ancas, com
a ferrugem de sediciosas vespas.
Eternos, quando saltam. Ou descarregam rolos de ares
bêbados. Todo galope é um pássaro.


Poema da devastação

Há uma devastação
nas coisas e nos seres,
como se algum vulcão
abrisse as sobrancelhas
e ali, sobre esse chão,
pousassem as inteiras
angústias, solidões,
passados desesperos
e toda a condição
de homem sem soleira,
ventura tão curta,
punição extrema.
Há uma devastação
nas águas e nos seres;
os peixes, com seus viços,
revolvem-se no umbigo
deste vulcão de escamas.
Há uma devastação
nas plantas e nos seres;
o homem recurvado
com a pálpebra nos joelhos.
As lavas soprarão,
enquanto nós vivermos.

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